o que é o Momento Multikulti?

O Momento Multikulti é uma iniciativa do Centro de Estudos em Movimento, parte do projeto Técnica Corporal, Tradição e Performance, coordenado pela Profa. Dra. Ciane Fernandes, da Escola de Teatro e do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA.
O evento mensal consiste num espaço aberto para troca de experiências e pesquisas interculturais, sempre a partir da improvisação artística – dança, canto, poesias, vídeos, etc.
O corpo em performance é nossa opção.
O evento é inspirado na Rádio Multikulti de Berlin, que toca músicas de todas as partes do mundo, e no Barefoot Boogie, de New York, onde as pessoas dançam sem sapatos uma noite de sábado por mês.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Multikulti, a meus olhos, cena 1

by Dalton Carneiro

Sexta 26 setembro 2008, 18 às 22 horas. Sala 05 da Escola de Teatro. ...para nos encontrarmos, dançarmos, trocarmos informações e paixões interculturais. Fui convidado por Ciane. Para ela, um momento de criação e exercício de sua vida de dançarina. Para mim, uma chance de reencontrar a dança.

Sexta 26 setembro 2008, 14 horas e eu em casa sem saber o que visto, o que faço em seguida e o que ainda tinha que fazer para garantir a mim mesmo que lá estaria. Nos últimos anos, sempre dei um jeito de me esquivar para dentro da caverna quando o mundo me enchia de desejos. Alguns kilos mais gordo, dores aqui e acolá, a alma encarcerada num corpo de pedra. Sobrevivendo graças a chamas de lembranças mortas de tempos vivos. Mortas, eu disse mortas? Esta não estava. Há uma semana palpitava por esse encontro. A estátua e a dança, alguém já disse por aí... e essa imagem é que me movia.

Sexta 26 setembro 2008, 16 horas e eu na rua, no ônibus, barra, campo grande, jardins, plantas, canela, reitoria, bom preço, escola de teatro, jardim, banco, a estátua senta ali às 17:30 e espera a sua bailarina. Vejo tudo sem me sentir visto. Só uma estátua mesmo podia imaginar olhar sem ser olhada. De dentro, do fundo da caverna que eu habito, o mundo inteiro soa esconderijo. Sei que não é, mas vale o que eu sinto e não o que eu sei. Sei por exemplo qual é a sala 5, de outros carnavais, lembranças mortas por ali me assombrando. Atores e atrizes ensaiam algo em outra sala além. Altas entonações, cabelos e braços pelas janelas, atores e atrizes pelo jardim andando como passarinhos, pulinhos e beijinhos, giros, gritinhos. Pedaços de conversa voam como flechas sem me atingir. Alguém aparece de uma porta com uma escada. Um vermelho ora verde na janela da 5. Eles sobem e descem aquelas e as outras escadas. Um som, um telão, já não era claro nem ainda escuro e eu sabia que a Multikulti na minha frente se batia para acontecer. Impávido e encantado, eu esperava a minha bailarina.